"the way is IN"

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Chorar: momento em que o sofrer se transforma em água.
A impotência molha. A dor molha. A vida molha. Toda a vida se transforma em água. O que não molha não interessa. Tudo o que vale a pena na vida molha. Um orgasmo vale a pena e molha, um suor vale a pena e molha, um choro vale a pena e molha. Se não molha: não é. É coisa pouca. Coisa pequerrucha. Tudo o que vale a pena molha. Molha de verdade. Molha mesmo. Encharca. Ensopa. Poucas coisas valem mais a pena do que chorar. Chorar liberta peso do corpo e da alma. As lágrimas não valem o seu peso em água. As lágrimas valem o seu peso em liberdade. A vida mede-se em lágrimas. Quem nunca chorou nasceu morto. A vida mede-se em lágrimas. Ter a capacidade de chorar é ter a capacidade de continuar. As lágrimas são o limpa pára-brisas da alma. São elas, e só elas, que te permitem eliminar toda a porcaria que te ofusca a visão. E prosseguir o teu caminho. as lágrimas são a água a mais que tens dentro de ti. As lágrimas são a comprovação, fáctica, de que meteste água. Todas as lágrimas são úteis.
Chorar: momento em que o sofrer se transforma em água.
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Umas páginas mais à frente...

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São as falhas no racional que mantêm o jogo em aberto. Que fazem com que o jogo mantenha todo o interesse. É o imprevisível que te mantém vivo. Ou é inesperado ou é uma seca. (...) O corpo é para ser uma sucessão de picos. Se não há orgasmo tem de haver dor. Se não há felicidade tem que haver depressão. O corpo precisa de picos. O meu corpo precisa de picos. E são as falhas nos meus cálculos mentais que mantêm o jogo em aberto. O meu jogo em aberto. (...) se não houver o inexplicável não interessa a ninguém. Mesmo que o inexplicável doa, é só o inexplicável que interessa. Ou o inexplicável ou nada. Voltar a acreditar depois de ter deixado de acreditar para sempre é inexplicável. E é absurdo. E é impossível. E bastou um olhar. E bastou um sorriso. E bastou uma palavra. Voltar a acreditar depois de ter deixado de acreditar para sempre é impossível. E todo o impossível é útil.
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in IN SEXUS VERITAS, de Pedro Chagas Freitas, pag.236 e243 vol.1